Cientistas brasileiros criaram um soro com anticorpos de cavalo que é 50 vezes mais potente que o plasma de pessoas que tiveram Covid-19. E mais: pode neutralizar a Covid-19.
O trabalho foi feito por pesquisadores da UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, e o resultado foi considerado ‘excelente’ pelos pesquisadores.
“Temos que fazer tudo com muito cuidado para não criar falsas ilusões, mas a resposta foi impressionante, muito acima das nossas expectativas”, afirmou ao Estadão o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio (Faperj), Jerson Lima Silva, que é pesquisador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e participou do projeto.
O princípio do soro de cavalos é semelhante ao tratamento feito com o plasma de pessoas que tiveram Covid-19 – que já está sendo usado no tratamento da doença para oferecer anticorpos extras ao paciente que ainda luta para combater ao vírus.
A diferença é que ele está sendo produzido em cavalos e, segundo os primeiros resultados, é muito mais potente. Esses anticorpos são posteriormente purificados e podem ser injetados nos pacientes.
O trabalho será submetido à publicação nesta quinta, 13, em sessão científica na Academia Nacional de Medicina (ANM).
Como
Jerson Lima Silva contou que um dos motivos de conseguir uma resposta imune tão boa, tanto em termos de anticorpos detectados quanto de sua capacidade para matar o vírus, é que os cientistas usaram uma proteína recombinante inteira e não apenas fragmentos.
A proteína S produzida no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe/UFRJ também propiciou o desenvolvimento de um novo teste sorológico para detecção de anticorpos para covid-19.
A pesquisa
Em maio, cinco cavalos do Instituto Vital Brazil (IVB) foram inoculados com uma proteína S recombinante do coronavírus produzida na Coppe/UFRJ.
Depois de 70 dias, os plasmas de quatro animais apresentaram anticorpos de 20 a 50 vezes mais potentes contra a covid-19. O quinto animal também apresentou anticorpos, mas em menor volume.
“Estamos todos vibrando com o resultado. Foi muito bom, excelente, maravilhoso”, disse o presidente do Instituto Vital Brazil, Adilson Stolet.
“Uma das vantagens é justamente que usamos os soros há um século, como o antiofídico e o antitetânico. Sem falar no volume de plasma que pode ser produzido. Nós temos 300 animais, mas podemos comprar mais 500; em dois meses teríamos uma quantidade enorme de anticorpos”, afirmou Adilson Stolet.
Em humanos
O produto abre caminho para um tratamento mais eficiente contra a doença.
Os pesquisadores aguardam agora autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para começar a testar o soro em seres humanos.
Como se trata de uma tecnologia já muito conhecida, os pesquisadores esperam poder pular a fase de testes pré-clínicos e partir direto para os testes com seres humanos.
Já existe uma parceria firmada com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) para a testagem.
“Mesmo que não consigamos uma eficiência de 100%, poderia ser uma estratégia também combinar essa terapia com a vacina”, sugeriu Jerson Lima Silva.
Com informações do Estadão